Thursday, January 29, 2009


O helicoptero derrubado por Santiago e sua equipe da Radio Venceremos


VULCAO SAO CRISTOBAL DEPOIS DE ENTRAR NA NICARAGUA

A CORRIDA DE BICICLETA EM MANAGUA

VULCAO MASAYA ONDE SUBIMOS DE BICICLETA EU E MEU ANFITRIAO. UMAS SUBIDAS BEM FORTES. TIVE QUE PARAR PARA UM DESCANSO E DEPOIS SEGUIR

COLOCANDO GELO EM MEU JOELHO, COMO MANDA O MEDICO, O GRANDE AFONSO
Quarta 21 Janeiro,
Ojocoto , El Salvador a San Francisco Honduras- 94 Km

Uma das coisas que muito queria fazer na regiao de Morazan era visitar a cidade de Perquin. Foi ai que em 1989 fiz muitas imagens da guerra como parte de meu prometo de mestrado. Era entao uma das areas totalmente controladas pelos guerrilheiros. Era tambem a area onde operava a afamada Radio Venceremos liderada pelo Comandante Santiago, o diretor da radio. Um ano depois ele veio aos Estados Unidos para um turne de palestras e quando veio á Iowa City a festinha de recepcao foi em minha casa. Santiago desenvolveu nesse entremeio uma fama fenomenal em meio ao movimento de solidariedade com o povo Salvadoreño nos Estados Unidos e no mundo pòrque conseguiu realizar um feito fenomenal.

Um dos coroneis mais afamado do entao governo que lutava contra os guerrilleiros foi responsable pelo famoso massacre chamado de El Mozote. Este era o nome do vilarejo que o coronel entrou e por suspeitar apoio da vila aos guerrilheiros exterminou todos os habitantes do lugar. Este mesmo coronel tinha pavor da Radio Venceremos pela grande eficiencia que possuia junto ao povo. Seu mayor objetivo era o de capturar os pesados transmisores da radio. E quando seus soldados lograram a captura do mesmo, ele veio pessoalmente da capital em seu helicóptero para recolher seu grande premio. Imagino que deveria ja ter alinhado para que em seu retorno estivessem todas as cadeias de radio e televisao lhe esperando para que pudesse exibir seu grande trofeu: o de ter capturado os transmisores e assim acabado com a poderosa Radio Venceremos dos guerrilheiros.

Pouco ele sabia que havia um plano por tras de tudo isso. Os guerrilheiros haviam adquirido um completo sistema de transmissao, removeram todos o coracao dos instrumentos e os preencheram com poderosos dinamites conectados a um sistema de controle remoto. Quando o helicóptero do Coronel atingiu certa e boa altura, o Comandante Santiago teve a honra de acionar o controle remoto e o helicóptero com o coronel dentro explodiu fazendo detrito dos tripulantes.

Sei esses detalles porque Santiago escreveu um livro sobre a operacao. Tenho uma copia autografada por ele.

Pude entao finalmente retornar a Perquin e visitar o que e´hoje o museu dos Guerrilheiros. Ai estao os destrocos do dito helicóptero.

Sai cedo de Ojocoto em directo á fronteira com Honduras. Os dias sao super quentes e sair cedo da manha e´o melhor remedio para poder cobrir um mayor numero de kilómetros.

Como sempre a primeira coisa que faco cedo da manha e´tomar minhas vitaminas e um remedio contra a dor de meu joelho. Em Sao Salvador pude colocar bastante gelo, mas na estrada isso e´impossivel.

Como em todas as outras fronteiras, cegando na fronteira com Honduras, tudo e´um caos. Os cambistas se amontoam a teu redor comos se fossem corvos atacando uma vaca ferida no campo. Agora uso minha nova tatica e digo que ja fiz cambio, assim me deixam temporariamente em paz. Mass assim que te diriges a outra seccao da aduana, um novo grupo baixa sobre ti como se fosses ja uma vaca morta.
Como estava cruzando apenas uma ponta de Honduras, passei apenas uma noite nesse pais. As estradas bem estreitas e cheias de buracos, Especialmente quando se aproximava da Nicaragua.

Ao redor do meio dia, quando comia um almoco de arroz e Feijao e tortillas na beira da estrada, vi passar dois orientais em bicicletas bem carretadas. Apurei para terminar de comer para poder alcanzar esses tocaios loucos. Demorei mais de hora para alcanca-los. Sao dois japòneses que residem em Vancouver no oeste do Canada. O plano deles e´de irem ate a Argentina. Continuamos juntos o resto do dia. Paramos em Nacanome pois eles ainda nao haviam almocado. Aproveitei para cambiar alguns dolares `para Lempiras. Quando descobriram que no dia seguinte seria meu aniversario entraram em clima de festa. Tomamos uma cerveja. No final do dia, depois de muito cerro chegamos á cidade de Sao Fernando. Eles queriam ficar em um hotel `pois precisavam lavar suas roupas no proximo dia e descansar. Pedalavam ja 6 dias sem nenhuma folga. Depois de boa procura encontramos um cuarto com tres camas. Eu insistira antes que poderia dormir no chao com meu colchao de ar, mas nao se deixaram convencer : ¨especialmente como e´o teu aniversario disse Takuya. Akihito e´mais quieto.

Cedo da manha preparei tudo pàra partir. Meus novos amigos desceram para o piso terreo onde ficaram as bicicletas e cantaram parabens para mim em ingles. Ate bolo imaginario tinha, com velas para soprar, claro. Aki tras consigo uma flauta e tocou uma cancao tradicional do Japao para meu aniversario. Trocamos enderecos e ficamos de nos encontrar ao longo da estrada. Como eles tem apenas 27 anos viajam muito mais rapidamente do que eu. Me diseram que fazem uma media de 110 km/dia. Minha media fica mais ao redor de 85. As chances sao bastante rtemotas que nos encontremos, mas nao se pode descartar a ideia.

22 Janeiro- Sao Fernando a La Hormiga, Honduras. – 71 Km
Cada dia as temperaturas ficam mais quentes. Ao redor das 11 horas entrei na cidade de Cholueca para usar a Internet e chamar a minha mae e tambem a Carmencita para meu aniversario. Conversei com a minha Mae e tambem com a mana Glaci. A Carmen por coincidencia estava em casa com a Elise quem nao fora á escola por nao se sentir muito bem . Assim que pude conversar mais extensivamente come las por Skype. Pelo Video pude tambem ver seus novos oculos que comprara desde que saira.

Paei para acampar no ultimo posto de gasolina antes de entrar pàra a Nicaragua. O guarda dai dividiu quatro cervezas pequenas comigo e outro visitante disse que sua irma poderia me preparar um prato de comida.

Cedo sai no outtro dia, bem antes do sol nacer. Estava feliz em poder regresar á Nicaragua, onde estivera em 1985 com um grupo de solidariedade. Fiquei chocado com o montante de poeira no lado Nicaragüense. Logo me informaram que estavam reconstruindo a estrada e que teria 14 km de chao para cobrir. Nunca comi tanta poeira em minha vida. Caminhoes, onibus, boiadas, charretes e outros tantos compartilhando na producto de um po fino e pènetrante. Todos os trabalhadores usavam mascaras. A pesar de estar passando a segunda pior estrada de todo meu trajeto, eu me sentia feliz. Algo havia acontecido. Antes, por causa dos rumores de serios problemas sociais em Managua, planejara em nao passar pela capital. Agora isso tudo mudara. Quero voltar a ver a cidade onde passei mais de um mes ha 24 anos atrás.

Logo de entrar á Nicaragua, senti um povo mais receptivo e sorridente. Ao contrario de Honduras onde a meninada so me dizia: ¨gringo , dime pisto¨ aquí as crianças acenavam e diziam Adios.

Na estrada um señor e seu filho vinham montados em uma bicicleta empurrando outra que furara o peneu. Pedi que parassem n aproxima sombra para que eu concertasse a camera. Como o eixo nao era de rapida remoçao, nao pude tirar fora a roda. Abrimos igual o peneu e encontramos o Furo. Em meia hora eles estavam a caminho de casa com suas duas bicicletas.

O grande vulcao San Cristóbal de 1745 metros, o ponto mais alto da Nicaragua se faz visible logo de entrar ao pais. O vulcao e´ativo e sempre joga aos ares uma fumaça branca e densa. A estrada faz um longo contorno

ao redor do vulcao. Assim que o dia inteiro, de diversos pontos de vista e de variadas distancias pude apreciar pela priv¡meira vez um vulcao ativo. Certamente os vi em El Salvador e Guatemala antes, nesta e em minha passagem por ai ha vinte anos atrás, mas nao ativos ( com fumaça) e á uma distancia tao grande que nao foi possivel aprecia-los. No caso deste passei tao perto dele que, se o mesmo entrasse em erupçao violenta, jogaria sobre mim se nao pedras e lava, ao menos uma grande quantidade de cinzas.

E´uma rara experiencia destas um exemplo dos trofeos que se coleta no cicloturismo. Pedalar, como tantos outros esportes, quando tomados a serio, involvem uma boa dose de masochismo. Mesmo assumindo que a maquina, o corpo, esta em excelente estado fisico-o que nao e´o meu caso, em boa parte por causa de meu joelho, ha um certo nivel de dor que se experimenta. Numa longa e forte subida digamos de 5 km, as pernas começam como que arder por dentro. Minhas maos, como a de tantos outros cicloturistas se poe tormentas quando me esqueço de mudar constantemente de posicao as maos no guidao. A maior parte do tempo a mente esta ocupada em concentrar-se com a força e energia que se procura criarcom as pernas, braços e torso. E ai tem os buracos no acostamento-assumindo que o mesmo exista- o transito, os galhos, pedazos de peneu descascados de caminhoes (estes cheios daquele arame bem fino que e´colocado com a borracha ara reforço) e mais. Tem os pedestres perto dos povoados, bicicletas indo e vindo no mesmo lado que transitas, charretes e ate gado que e´transladado á pe de um lado a outro. Assim que e´facil de esquecer de fazer a constante mudanza de pòsicao nas maos.

Claro que existem as recompensas depois de ardua subida ver um lindo panorama do topo e parar para apreciar tao fabulosa criaçao de Deus.

Existe tambem bastante tempo para ponderar sobre a vida e as tangentes cosmicas da existencia humana. Porque se torturar dessa maneira e emprender uma viajem desta com 50 anos? Minha barata resposta para mim mesmo e´algo como: diga-me de uma convincente razao para nao faze-lo e eu te darei dez para realiza-lo. Tem gente que diz: ¨eu poderia ter feito isso¨. Eu nao quereo estar nessa posiçao. Eu quero poder dizer: ¨eu fiz esta viajem¨. O que sempre digo quando alguem faz algum elogiu como: ¨tu tens muita coragem¨. Eu retruco com: para se emprender a tal aventura uma Pessoa tem que ter um pouco de coragem e um monte de estupidez; um pouco de visao e uma montanha de ingenuidade; um monte de vontade e um Everest de fe em Deus. Fe´ nao de invulnerabilidade, mas de que os anjos te acompanham pelo caminho , protegendo-te de todos serios males.

¨To be or not to be, that is the question¨ nos lembra Shakespere. Ser ou nao ser, eis a questao. Pedalar ou nao pedalar todo o caminho. Em verdade, ciclismo e´um tanto como vicio. Entre os ciclistas, em pequenos e grandes grupos, se desenvolve uma camaradagem que nunca encontrei de nenhuma outra forma. Muitos de teus melhores amigos acabam sendo ciclistas que talvez nunca se teriam tornados amigos nao fosse por essa quase perfeita maquina de duas rodas que leva essas pessoas dos mais distintos caminhos e encontrarem nas encruzilhadas da vida. E esse lugar se torna uma maneira de estratosfera onde religiao e politica, estatus economico, social e cultural se reduzem todos a um denominador comum. E´nesse denominador que as pessoas se transformam e desenvolvem um profundo- quase espiritual- espirito de irmandade e camaradagem.

Eu nunca vi nenhum outro meio como o ciclismo onde o rico e o pobre se igualam de tal forma. Em um pequeño grupo de pessoas que pedalam, digamos uns 25, se encontram profissionais do mais alto e do mais ¨baixo¨nivel. Do doctor ao agricultor, do advogado ao pedreiro, do estudante ao profesor de faculdade. Do jovem de 17 ao menos jovem de 70. Em meu clube, o BIC- Byciclists of Iowa City- no verao passado fomos a um passeio de 60 km e acompanhei um senhor de 72 anos que pedala com o grupo ha apenas 3 ou 4 anos. Ele me disse: ¨meu maior pecado na vida, onde mais perdi, foi ter descoberto o ciclismo tao tarde na vida¨

Estas sao sem duvida as palabras mais convincentes em favor do ciclismo que eu hei de ouvir na vida.

Voltando a falar de solidariedade, foi no RAGBRAI- o maior passeio ciclistico do mundo- que senti esse grande espirito de irmandade entre os ciclistas. RAGBRAI e´um passeio criado em 1971 onde participam de 12 a 14 mil ciclistas todos os anos no estado de Iowa. E´o maior passeio ciclistico do mundo e ha um comportamento muito bonito. Apesar do grande espirito de festa que existe no transcurso dos 750 km, pouquissimos sao os que tomam demasiados nos concertos que ha todas as noites e nas reunioes de acampamento.

Voltando á Nicaragua, tive a sorte de encontrar alguns ciclistas treinando cedo da manha perto da cidade de Leon. Perguntei a eles se nao tinham nenhum amigo onde poderia colocar minha barraca por alguns dias para lavar roupa, descansar e fazer um pouco de Internet. Deves chamar a Shano, me disseram, e assim o fiz. Seu nome na verdade e´Shannon e vem da California. E´ presidente da Federaçao Nicaragüense de Ciclismo e ja reside no pais ha 23 anos, desde 86. Nao so possui uma Loja de bicicletas, mas tambem as fabrica. Importa tudo da china e Taiwán e as monta aquí. Tem toda uma equipe e antes do fogo que arrazou sua empresa ha um ano atrás, fabricava 40 mil bicicletas ao ano. Agora esse numero esta pela metade ou um pouco menos. Pessoa super generosa e a pesar de seus 25 empregados e dezenas de chamadas telefonicas ao dia, mantem
Uma calma e serenidade invejaveis. Por coincidencia ocorria no proximo dia uma corrida em Managua e ai nos encontramos. Nos 4- 5 dias que aquí fiquei pude tratar meu joelho com gelo, fazer exercicios para o joelho e descansar bem meu corpo como recomenda meu amigo Miguel, quem fez este mesmo percurso ao reves em meados dos anos 90.

O mais bonito da Nicaragua e´que encontrei outra vez um povo sorridente e esperançoso, a pesar de todos seus problemas sociais e politicos. As estradas nao sao tao boas como em El Salvador, mas muito melhores que em Honduras e Guatemala e as do Mexico por onde passei. Em Honduras as crianças gritavam ¨gringo, di me pisto¨quando passavas. Aquí todos te dao Adios e sorriem. Estou feliz de estar na Nicaragua, sem duvida meu pais favorito na America Central. Ainda faltam Costa Rica e Panama, mas acho que vai ser difícil encontrar tal receptividade.

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